quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Lisboa: Uma visão da evolução da rede do Metro e do Sistema de Transportes na Área Metropolitana

Lisboa e a sua Área Metropolitana, assim como todo o país, estruturou a sua mobilidade em cima dos investimentos na rede rodoviária ao longo de décadas. Os investimentos na ferrovia e no Metro, apesar de terem sido realizados, não acompanharam a demanda do desenvolvimento demográfico no território.

Assiste-se diariamente a um esgotamento e pré-colapso de todo o sistema de transportes na capital. Sobrelotação, baixas frequências, atrasos, baixa fiabilidade horária. Um caos diário, que convida ao uso do automóvel, que por sua vez também está mais caótico que nunca.

Imagine-se que de hoje para amanhã havia uma transferência de mais umas dezenas de milhar de pessoas dos seus automóveis para o Metro e comboio. Era o colapso final.

Enquadramento da Rede Ferroviária:

Como já abordado anteriormente em https://mobilidadeaserio.blogspot.com/2024/02/uma-nova-rede-ferroviaria-nacional-vi.html, faltam linhas ferroviárias suburbanas e regionais que atravessem diametralmente a Área Metropolitana. 

  • Falta comboio nos corredores suburbanos de Loures a Mafra e Ericeira. 
  • Falta comboio no corredor intermédio entre a Linha de Sintra e Linha de Cascais.
  • Falta uma coisa tão simples como integrar a linha de Cascais na rede com total interoperabilidade.

  • Falta o acesso ferroviário de Alta Velocidade para o Norte e para Espanha, com a eminente TTT, também indispensável para as ligações suburbanas e regionais para o novo Aeroporto.
  • Falta uma verdadeira Estação Central na cidade e Área Metropolitana que cumpra a centralidade na rede que a Gare do Oriente não cumprirá jamais geograficamente.

Mas, além da ferrovia suburbana e regional, a mobilidade em Lisboa também depende do Metro, que ao longo das décadas tem expandido a sua rede, também aquém das necessidades presentes e futuras.


O Metro de Lisboa
 
O Metro de Lisboa, enquanto sistema de ferrovia pesada subterrânea, tem aplicabilidade nas áreas mais densas da cidade e seu termo. Os seus custos de construção não são compatíveis com megalomanias de o levar para áreas menos densas e periféricas. Para estas áreas, parece adequado desenvolver sistemas complementares de Metros Ligeiros/Tramways que sirvam de feeder do Metro e da ferrovia. Lá chegaremos.

Mas para já, verifica-se que a atual rede de Metro já ocupa grande parte dos corredores de alta procura e densidade, com algumas excepções, que já estão entretanto a ser intervencionadas. Vejamos:

A rede atual em funcionamento:

A rede atual tem algumas pontas soltas como o Aeroporto desligado do Campo Grande e Telheiras. 

Salta também à vista a falta de cobertura da rede do Metro nas densas áreas compreendidas entre Campolide, Alcântara e Santos. 

Para colmatar isso, no início do milénio planeava-se as extensões das linhas Amarela e Vermelha para essa área da cidade.

Vejamos o plano de expansão de 2009:

A expansão das linhas Verde e Vermelha, configuraria algo mais próximo de uma rede com novos "nós" no Lumiar e na Pontinha. O prolongamento da Linha Amarela até Alcântara teria a virtude de ligar diretamente o novo extremo da rede em Alcântara até ao Marquês, um local com importante centralidade na rede.

Este plano foi abandonado, e entretanto fluoresceu a ideia de uma linha circular, aproveitando a Linha Verde entre o Campo Grande e o Cais do Sodré, e a Linha Amarela entre o Campo Grande e o Rato, com a extensão desde este local até ao Cais do Sodré.

Plano de Expansão em Curso:

As obras entre o Rato e o Cais do Sodré estão em curso, assim como a intervenção no Campo Grande para a circulação ser direta entre Alvalade e Cidade Universitária. E simultaneamente a circulação da Linha Amarela ficará orientada para Telheiras.

Só que há alguns problemas nesta solução. Um é tão óbvio que até passa algo despercebido... É que geograficamente a linha nunca será circular, o que corrompe as virtudes desse tipo de solução. A linha está mais próxima de ser um rectângulo com duas arestas verticais que correm paralelas a menos de 2 Kms uma da outra, ao longo de 6 Kms.

Há ainda as questões operacionais das linhas circulares. É que qualquer incidente afecta a toda a linha.

No atual plano, está também a ser construída a expansão da Linha Vermelha entre S. Sebastião e Alcântara, passando por Campolide e Campo de Ourique.

Saltam à vista alguns problemas:

Há princípios do desenho de redes de transportes que foram ignorados neste plano. Faltam "nós", pontos nos quais as linhas de cruzam e geram correspondências, dos quais são feitas as redes. Portanto, há buracos que estão a ser criados na rede.

Salienta-se que Campolide, Campo de Ourique e Alcântara, estarão ligados entre si, mas o acesso desta área da cidade à Baixa fica obstaculizado.

E... O Aeroporto, ali tão perto da Alta de Lisboa e do Campo Grande, continua a ter o seu acesso ao eixo central da cidade através duma volta pela área oriental da mesma.

Enfim, para solucionar estas deficiências, apresenta-se uma visão alternativa da rede do Metro de Lisboa.

Proposta Alternativa para o Metro de Lisboa:

Resumidamente:

Extensão da Linha Amarela entre o Rato e Alcântara, cruzando na Estrela a extensão da Linha Vermelha entre S.Sebastião e Cais do Sodré.

Desta forma, Alcântara fica diretamente ligada à centralidade da cidade no Marquês, e a área de Campolide e Campo de Ourique fica também servida de acesso direto à Baixa.

Abandono da linha circular. O Campo Grande regressa à a sua disposição ancestral.

A partir daqui a Linha Amarela segue à Quinta das Conchas, mas em vez de seguir para o Lumiar em direção a Odivelas, deriva para a Alta de Lisboa e ao atual Aeroporto Humberto Delgado.

E a Linha Verde em vez de terminar em Telheiras inflete para norte até ao Lumiar, recuperando a ligação direta de Odivelas ao centro de Lisboa.

Pequenas alterações em relação ao que está hoje a ser construído, mas que permitiam ter uma rede melhor tecida, com mais "nós" para melhores correspondências entre eixos diametrais a unir os extremos das áreas mais densas da cidade.

Esta configuração, estabelece uma linha contínua entre Odivelas e Alcantara-Terra. Apesar de se dever manter a nomenclatura das linhas Verde, Amarela e Vermelha, em termos operacionais pode ser possível que os comboios prossigam viagem continuamente através das 3 linhas, o que podia evitar transbordos no Cais do Sodré e no Oriente, roçando assim de algum modo a filosofia que sustenta a defesa da linha circular:

Há ainda neste plano proposto, algumas sugestões para retificar alguma nomenclatura das estações: 
  • Assumir os "Restauradores" como "Rossio", integrando com a gare ferroviária. 
  • Simultaneamente e para evitar confusão, a estação de metro "Rossio" passa a designar-se "Baixa".
  • "Baixa-Chiado" passa a "Chiado" apenas.
  • Assumir "Sete-Rios - Intermodal" e deixar cair "Jardim Zoológico".

Alguma Expansão mais?

Loures? Ajuda e Belém? Alfragide e Carnaxide? Penha de França? Num mundo de recursos infinitos era fácil decidir a expansão do Metro para estas áreas: 

Só que estas áreas têm previsivelmente uma procura um nível abaixo das áreas entretanto já consolidadas e servidas pelo Metro.

Na nossa visão, é aqui que entra a oportunidade para o Metro Ligeiro/Tramway.


Sistemas Ligeiros da Área Metropolitana de Lisboa

Linhas suficientemente segregadas, capacitadas, dimensionadas para consolidarem o sistema de transportes da Grande Lisboa como um todo. Que funcionem como ligação de novos territórios ao sistema e também como complemento à rede ferroviária e ao Metro.

Apreciação geral da Área Metropolitana, com vários Sistemas Ligeiros integrados com a Nova Rede Ferroviária e o Metro:


A reboque dos planos para os LIOS, o Metro Sul do Tejo, o SATU e a nova Linha Violeta de Odivelas e Loures.

Interessa na nossa visão ter uma operacionalidade comum a todos os sistemas. De preferencia uma só organização e cadeia de gestão e operações, integrada com o Metro de Lisboa e a Carris, sob uma única Autoridade de Transportes a nível Regional.

Bitola, alimentação, sinalização, material circulante interoperável (com excepção de um renascido Elétrico da Praia das Maçãs), de acordo com o já existente no MST.








Elétricos da Carris:

O que resta da rede de carros eletricos da Carris, pode também ter um papel no sistema de transportes na cidade das sete colinas. Além do postal turístico e museu vivo, é ainda hoje um sistema que permite correr as calçadas inclinadas de algumas das colinas de Lisboa e com isso atuar onde o Metro e os novos Sistemas Ligeiros não são capazes.

Aproveitando quase todos os carris de metal separados por 90cm ainda existentes nas calçadas de basalto, destacamos neste plano o resgate da Rua do Alecrim para ligar o 24E diretamente ao Cais do Sodré, o regresso do canal entre Santos-o-Velho e Alcântara-Terra para fazer a Linha 15E, deixando a marginal para o novo sistema ligeiro ocidental, e a reposição de linha entre o Martim Moniz e a Estefânia através dos Mártires da Pátria, para prolongar a operação da Linha 12E, desta feita em laço.

Linha de Guimarães: Projecto Inacabado?

A designada Linha de Guimarães, é hoje em dia um ramal da Linha do Minho com 30 Km, entre Lousado e a cidade de Guimarães, passando por Sant...