sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Planos de Transportes: Rodalies de Catalunya

Um plano único que agrega os serviços de carácter suburbano e de carácter regional.

Prevalece em muitos desses serviços o atravessamento diametral das cidades, com destaque óbvio para Barcelona, mas também Tarragona e Girona.

Assim de repente, de forma a fazer escola, salta-nos à vista a linha R4
Tem 143 km entre Sant Vincent de Calders e Manresa. Frequências que variam entre os 15 e 30 minutos ao longo do dia. Mas obviamente esta linha não está desenhada para unir as duas cidades terminais da mesma, que fisicamente até só distam menos de 70km entre si.

Porquê então?

Porque não duas ou três linhas mais óbvias entre pontos intermédios?

Quem é que vai de comboio de Manresa para Sant Vicent de Calders?

Dificilmente alguém, mas ainda assim há essa possibilidade. E muitas mais. 

É isso mesmo. 

Esta linha cria possibilidades, estabelece ligações diretas entre todos os pontos na extensão da mesma! Caso a linha fosse fraccionada em linhas mais pequenas, estariam a promover transbordos. Roturas de carga que penalizam sempre a atratividade da solução de transporte.




Transpor a filosofia desta linha para a rede ferroviária Portuguesa, confronta imediatamente vários casos de roturas de carga entre várias ligações, que podiam ser rectificadas. Devem ser logo que a infraestrutura e o material circulante o permitam.

Alguns exemplos/propostas:
Sem grandes estudos e rigor, é certo... Estes exemplos são mais para aplicar e ilustrar o potencial dos conceitos de diminuir transbordos, atravessar diametralmente cidades e regiões, em serviços idealmente cadenciados.

Criar soluções, ligar territórios, abrir mais opções para mais necessidades diversas de deslocação.

O todo pode de facto ser muito mais do que a soma das partes!

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Planos De Transporte: Paris, sua área metropolitana e região Île-de-France

Sem entrar em considerações geográficas, demográficas e técnicas acerca do tamanho e complexidade da rede de transportes, ao ler o plano de ligações ferroviárias suburbanas e regionais de Paris e Île-de-France salientam-se alguns aspectos:

‌- As linhas Suburbanas "RER" têm troncos comuns que atravessam diametralmente Paris, e estendem-se por ramais até aos limites da Área Metropolitana;

- As linhas Regionais "Transilien" são por sua vez radiais entre uma das estações centrais de Paris e as periferias da região Île-de-France;

-‌ No territorio metropolitano, os regionais "Transilien" normalmente não têm paragens sobrepostas às paragens dos suburbanos "RER". Isto beneficia o tempo de viagem de quem se desloca de/para as áreas mais periféricas da região em relação a Paris.

Isto não será assim porque calhou e, é muito interessante na hora de estudar ou desenhar um qualquer sistema regional de transportes.

No final deve imperar o objectivo de tornar o sistema atrativo e fiável. Que crie o máximo de soluções para as diversas necessidades de mobilidade. Urbanas, interurbanas, regionais. Frequentes ou ocasionais. Para nativos mas também para visitantes. Ter na equação capacidade, frequência, velocidade, tempo de viagem, infraestruturas, características e demanda do território, recursos, rentabilidade... Nunca será fácil.

O que aprendemos então ao apreciar este plano de Paris e Île-de-France:

-‌ Diferentes linhas que se cruzam em vários pontos criam efeito rede, criam redundâncias, oferecem soluções e cobertura territorial;
- Troncos comuns estimulam frequência;

‌- Atravessamentos diâmetrais das cidades minimizam necessidades de transbordo, acrescentam soluções de ligações diretas;

-‌ Ligações regionais que penetram as áreas metropolitanas de forma mais ágil, complementando os suburbanos, oferecem tempo de viagem mais competitivo, encurtam o território, criam "shortcuts" no sistema.

Estas apreciações são úteis na hora de idealizar e formular mudanças nos sistemas de transportes ou desenhar novas linhas, redes e sistemas.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Há espaço para o automóvel? Sim.

Como já escrevemos antes, temos um problema ambiental, económico, de saúde e de ocupação de espaço com a ultra-prevalência do automóvel na nossa sociedade.

Os automóveis são máquinas demasiado caras para transportar na maior parte das vezes apenas um ocupante e para passar a maior parte do tempo parados. A perda de energia, a ineficiência enquanto máquina é brutal. 

Mas, racionalmente não se pode cair no erro de desvalorizar totalmente a solução automóvel e combatê-lo cegamente.

Na nossa visão, há espaço para o automóvel. Necessariamente menos do que aquele que actualmente existe consagrado ao mesmo, e que condena as nossas cidades e vilas a padrões de qualidade de vida muito questionáveis:

  • Espaço público desumanizado;
  • ‌Insegurança e sinistralidade rodoviária que leva a que muitos cidadãos tenham simplesmente medo de andar na rua a pé;
  • ‌Falta de confiança para as crianças voltarem a brincar na rua, prejudicando o seu desenvolvimento;
  • ‌Poluição atmosférica e qualidade do ar nefasta para a saúde;
  • ‌etc...

Já para não falar dos custos incríveis de aquisição, manutenção e combustível, face aos rendimentos dos portugueses. Traduzir esses custos em tempo de trabalho para os pagar é arrasador. Faça o leitor essa conta. Quantos dias, meses, anos teve/tem de trabalhar para pagar o seu "direito à mobilidade"?

Entender isto devia fazer despertar a sociedade para a exigência de novos e melhores sistemas de transportes, assim como de infraestruturas que facilitem a alternativa de deslocação por meios suaves e mais económicos. Quando perceberem que isto é um assunto que lhes entra muito no bolso, talvez despertem.

Mas ainda que tivéssemos sistemas de transportes e mobilidade eficazes e responsivos às necessidades da sociedade, prevaleceriam de facto tipos de deslocação que só serão satisfeitas com automóvel e que certa forma minimizam as ineficiências da solução:

  • Deslocações com três ou mais ocupantes são à partida mais admissíveis em contexto de sustentabilidade, quer de recursos, quer de ambiente;
  • Deslocações de pessoas com mobilidade reduzida ou fragilidade de saúde;
  • Deslocações de profissionais itinerantes;
  • Deslocações com transporte de grandes volumes.

Especialmente estas situações genéricas, que não são rígidas e estanques, servem para expor as virtudes do automóvel, tanto a montante, como a jusante de um bom sistema de mobilidade.

Mas... chegamos a uma tal degradação do sistema de transportes, em que para além das situações identificadas, se utiliza o automóvel para toda e qualquer deslocação. A maioria dos automóveis circula com apenas um ocupante. Independentemente da distância e da causa. Quer para ir à padaria a 500 metros, quer para ir dar aulas a 60km.

Nestes dois exemplos temos a multiplicação do preço do pão no primeiro caso. E o trabalhar para pagar a deslocação para o mesmo no segundo: carro comprado a pronto ou credito, manutenção e 500 euros para combustível e portagens. Com um ordenado de 1600, esta situação é um desastre financeiro para o orçamento pessoal/familiar.

Quando se pede uma repartição do espaço público, para devolver espaço ao peão, ciclovias segregadas atrativas e com segurança à prova de clima e canais de transportes públicos segregados, não se deseja eliminar o acesso rodoviário comum, só porque sim e só porque se quer cegamente tirar os carros das cidades.

Há e deve continuar a haver espaço para o automóvel. O suficientemente para quem precisa mesmo e não tem alternativa. É preciso induzir as alternativas. Com racionalidade, vontade e determinação.

Linha de Guimarães: Projecto Inacabado?

A designada Linha de Guimarães, é hoje em dia um ramal da Linha do Minho com 30 Km, entre Lousado e a cidade de Guimarães, passando por Sant...