Atualmente, a rede ferroviária de interesse regional no norte do país fica caracterizada pelos Suburbanos do Porto, Regionais e Interregionais das Linhas do Minho e Douro. E o Celta, que apesar de ser um comboio internacional, cobre um território definido pelo Litoral Norte e Sudoeste Galego.
Associado a este diagrama, apresentamos também de forma sintética as características de cada linha/serviço.
Em jeito de apreciação geral verificamos algumas disfunções:
- Roturas de carga, transbordos forçados entre Suburbanos do Porto e Regionais em Nine, Viana e Marco de Canaveses.
- É também patente o planeamento de todos os serviços de forma radial, centrada no Porto. O Que mais um vez significa quebras na rede, falta de soluções que atravessem de forma direta e diametral toda a área metropolitana.
Os melhores exemplos de sistemas ferroviários metropolitanos e regionais assentam no atravessamento diametral das cidades/áreas metropolitanas. Com tronco(s) comum(s) para estimular frequência. E com linhas que se cruzam em diferentes pontos do território para configurar uma rede. São os "nós", entre as ligações ferroviárias, mas também com os outros meios de transporte complementares, que criam uma verdadeira rede.
Em cada disfunção detectada, há também uma oportunidade de corrigir e fazer melhor.
Claro que falta infraestrutura e falta material circulante, resultado de décadas de desinvestimento e estagnação dos acessos ferroviários nas cidades portuguesas.
Sem entrar em grandes devaneios, tentando aproveitar algumas informações e debates, relativamente disponíveis no nosso horizonte, esboçamos de seguida algumas propostas de melhorias que consideramos importantes.
Sobretudo centradas na Linha de Leixões.
A reabertura da Linha de Leixões aos serviços de passageiros foi recentemente debatida publicamente. Foi revelado pela CP o estudo de fazer circular 1 comboio por hora e por sentido, da família de Suburbanos de Ovar/Aveiro.
Em relação à situação atual, qualquer coisa já será melhorar.
A Linha de Leixões tem o potencial de atravessar as áreas de influência do Hospital de S. João, Pólos Universitários de Asprela e ISCAP, S. Mamede de Infesta, Efacec, Lionesa Business Hub em Leça do Balio, até Matosinhos e o seu porto de Leixões.
Todos estes locais são pontos geradores de tráfego, procura e interesse regional. Sobretudo o Hospital de S. João e os Pólos Universitários que são acedidos diariamente no seu conjunto por dezenas de milhar de pessoas.
A Linha de Leixões tem também a virtude de criar um arco que cruza/faz interface com as linhas D,C,B e E, A do Metro do Porto. Nessas linhas as frequências estão entre os 5 a 15 minutos. É muito potencial passageiro para rebater a toda a hora.
Entendendo todo este potencial, a proposta da CP de uma circulação por hora e por sentido, apenas com a origem/destino no corredor Porto - Ovar/Aveiro, é muito minimalista.
Sabemos que sem intervir na infraestrutura e sem novo material circulante é difícil fazer mais.
Mas suspeitamos também que uma aposta tão limitada, com tão baixa frequência e baixo efeito rede pode ser um fracasso.
O facto de ter uma ligação a atravessar a área metropolitana além de Campanhã sabe a pouco neste contexto.
Com esta análise, entendemos que a Linha de Leixões deve ser reaberta com aumento da capacidade. O canal prevê a duplicação da linha. É imperativo concretizá-la na nossa visão. É investimento que se paga a si próprio ao longo dos anos. Além da via duplicada, é preciso criar estações, interfaces com as linhas do Metro, de forma a criar efeito de rede e acessos dignos e atrativos aos utilizadores.
E a Linha de Leixões passa 2 Km a Sul do Aeroporto Sá Carneiro.
Sem prejuízo do projeto da Linha de Alta Velocidade Porto - Vigo vir a colocar Campanhã a 10 minutos do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, até lá e à parte disso, é preciso entender que o Aeroporto FSC não é só o aeroporto do Porto. É o aeroporto de Braga, de Viana, de Penafiel, de Aveiro... de toda a região. Como tal, deve ter um acesso ferroviário que corresponda a esse interesse regional.
A atual linha E de Metro configura uma solução local, limitada, que obriga a transbordos e tempo de viagem nada competitivo. Responde às necessidade de mobilidade locais e urbanas mas não é solução para as necessidades de mobilidade regional.
Então a Linha de Leixões tem de chegar ao Aeroporto FSC!
Ter parte dos Suburbanos de Braga, Guimarães, Penafiel/Marco e Ovar/Aveiro a atravessar a Linha de Leixões pode ser revolucionário na mobilidade metropolitana e regional. É tornar o Hospital de S. João, Aeroporto, Pólos Universitários, Indústrias e Business Centers acessíveis para toda a região do Minho, Douro e Vouga. Acumulando o efeito rede que os interfaces com o Metro do Porto.
Assim seria possível ter a frequências de 6/8 comboios por hora e por sentido neste novo tronco comum, cumprindo também de certa forma a premissa de atravessamento diametral da área metropolitana.
Além da Linha de Leixões, está estudada a construção da Linha do Vale do Sousa. A oportunidade da Linha do Vale do Sousa é agregar à rede Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras.
Interessante e muito relevante na nossa consideração é a ressurreição da concordância de Nine.
O Plano Ferroviário Nacional aborda a possibilidade dos Regionais do Minho, que atualmente circulam de/até Nine, possam ser estendidos a Braga.
É uma visão que nos agrada, elimina a necessidade de transbordo em Nine, cria ligação direta entre Braga, Barcelos e Viana do Castelo.
Configura uma centralidade de Braga no Minho e, complementa um prevalente "Porto-centrismo".
E pode configurar uma centralidade de Viana. Como?
Parece-nos óbvio que a quebra nos Regionais do Minho que atualmente se pratica em Viana tem de ser revertida.
As ligações regionais devem ser diretas entre Braga e Valença.
Isto anula as roturas carga em Nine e Viana.
Isto cria soluções de mobilidade para quem quer/precisa atravessar Viana para norte ou para sul sem ter de trocar de comboio.
Isto atrai passageiros e retira automóveis da estrada.
Isto torna possível, mais fácil e acessível ir de Barcelos para Vila Nova de Cerveira. Ou de Braga para Caminha. Ou simplesmente de Darque para Afife, numa dimensão mais suburbana centrada em Viana.
Terminámos aqui esta primeira ronda de considerações e propostas para melhorar o Sistema Ferroviário na Região Norte.
Há tópicos que não tocamos ainda.
São menos consensuais e o horizonte não oferece grandes perspectivas realistas para os mesmos:
Fechar um arco entre Braga e Guimarães e Linha do Douro?
Uma nova Linha de Trás-os-Montes?
Resgatar a Póvoa de Varzim e Vila do Conde para a ferrovia convencional?
Aproveitar o canal de AV a sul de Gaia para agregar Stª. Maria da Feira, SJM e Oliv. Azemeis à rede de interesse regional?
Brevemente...