A Linha do Vale do Sousa, atualmente em projecto, é uma nova linha com vista à expansão da rede ferroviária de interesse regional, para servir a subregião do Vale do Sousa, entre Valongo e Felgueiras, passando por Paços de Ferreira e Lousada.
Estamos a falar dum corredor de 80 mil habitantes na área de influência direta do canal ferroviário, numa subregião com mais 200 mil ao todo.
O Vale do Sousa confirma o carácter Multipolitano da Região Norte. Várias cidades e vilas dispersas, com média ou baixa densidade populacional.
Ainda assim, é uma área de intensa actividade económica e relações importantes com o Grande Porto Metropolitano e também com o Vale do Ave.
Mas em termos de vias de comunicação, o Vale do Sousa está desde sempre isolado da rede ferroviária nacional, numa faixa do território intermédia entre as Linhas do Douro e de Guimarães. Como tal, a rodovia e o uso do automóvel particular é avassalador neste território, quer para responder às necessidades urbanas, mas também para as necessidades regionais/interurbanas de deslocação.
Desde os primeiros estudos, até à atualidade, temos hoje uma perspectiva mais próxima do traçado, da localização das futuras estações e apeadeiros, e da tipologia da infraestrutura.
Uma via única eletrificada ao longo de 37 Km, com alguns sectores duplicados, para patamares de velocidade até 140km/h, capazes de colocar Felgueiras a cerca de 50 minutos de Campanhã e com frequências até dois comboios por hora e por sentido. O que é muito razoável, racional e suficiente para competir com a rodovia e oferecer às populações soluções alternativas e atrativas.
Numa perspectiva mais crítica, observam-se alguns pontos que merecem atenção.
A solução proposta para inserir a nova Linha do Vale do Sousa na Linha do Douro é questionável.
Ao contornar S.Martinho do Campo por este e sul, a nova linha penalizará em distância e tempo de viagem, sem aparente vantagem na orografia.
Parece mais oportuna a inserção entre os atuais apeadeiros de Suzão e Valongo, procurando depois o canal paralelo à A4.
Esta solução retira aproximadamente 5 minutos de viagem em relação à primeira alternativa, o que não é de negligenciar quando se compete com autoestradas paralelas.
A maior exigência desta alternativa é o reposicionamento de uma nova estação em Valongo, mais central, que substitua a anterior, assim como o apeadeiro de Suzão, por se encontrar equidistante e apenas a algumas centenas de metros de ambas:
Haveria a necessidade de uma maior área de implantação para acomodar 4 vias e a interface com a Linha Douro. Assim como um novo centro de camionagem para optimizar as correspondências com o transporte rodoviário.
Podia ser uma oportunidade para a reabilitação e valorização urbana de uma zona central da cidade de Valongo.
Os desafios da nova Linha do Vale do Sousa, estão também a montante e a jusante da mesma.
A jusante:
Em termos de operação, a capacidade operacional da Linha do Vale do Sousa dependerá da quadruplicação da Linha do Minho entre Contumil e Ermesinde.
Atualmente esse trecho da Linha do Minho, com duas vias apenas, já está espremido com as circulacões de longo curso, mercadorias, regionais e suburbanos do Minho, Douro, Braga, Guimarães e Marco.
Alternativamente, a Linha de Leixões poderia entrar nesta equação. Apesar da Linha de Leixões fazer um arco à volta do Porto e interceptar várias linhas do Metro do Porto até ao seu término em Matosinhos, continua a ser negligenciado o seu uso para serviços de passageiros. O serviço que se perspectiva arrancar para o próximo ano, será um serviço mínimo, sem condições para atrair as populações que procuram as áreas atravessadas.
Uma duplicação da Linha de Leixões e da Concordância de S.Gemil podia configurar um arco ferroviário distribuidor para aceder ao centro do Porto, com os rebatimentos do Metro no S.João, Araújo, Esposade e Senhor de Matosinhos. Com acesso aos pólos universitários de Asprela, e áreas industriais de Leça do Balio. Já para não falar de uma ligação ao Aeroporto que está a 2 Km da Linha de Leixões. A falta de diligência dos sucessivos governos para resolver uma ligação tão mínima mas com tanto potencial impacto económico na região, é cadastro nos ministros da tutela.
Vários serviços Suburbanos de Braga, Guimarães, Penafiel e Marco poderiam ser encaminhados pela Linha de Leixões se esta tivesse condições, aliviando a pressão sobre a Linha do Minho entre Campanhã e Ermesinde.
A montante:
A Linha do Vale do Sousa passará por Lousada e terminará em Felgueiras.
Nestes dois locais, o traçado está muito próximo da Linha do Douro e da Linha de Guimarães respectivamente:
É avisado considerar na construção da Linha do Vale do Sousa, a reserva de espaço canal para uma posterior extensão de Felgueiras a Vizela, com entroncamento na Linha de Guimarães.
Nos estudos de procura da Linha do Vale do Sousa, é saliente que as relações pendulares quotidianas de Felgueiras com Guimarães e Vizela são tão ou mais volumosas do que com o Grande Porto. E isto não é de negligenciar.
Já a proximidade da futura Linha do Vale do Sousa com a Linha do Douro entre Lousada e Caíde, avisa a reserva de canal para unir ambas através de um bypass.
Estes pequenos troços associados à nova Linha do Vale do Sousa têm muitas potencialidades:
- Consolidam efectivamente uma rede ferroviária, com "nós" entre linhas transversais, em vez de deixar prevalecer a menor procura por um tronco com caules;
- Permitem melhores relações de transporte entre os 3 corredores das Linhas do Douro, Vale do Sousa e de Guimarães;
- Aumentam a capacidade da Linha do Douro e de uma nova Linha para Trás-os-Montes;
- Criam redundâncias e percursos alternativos em caso de incidentes em algum ponto da rede;
- Tornam possível o Arco Ferroviário do Minho-Douro, se associados a um novo troço entre Braga e Guimarães e a reposição da Concordância de Nine.
Estamos a falar de apenas 18 Km de nova ferrovia, além da já prevista Linha do Vale do Sousa, para todas estas virtudes enumeradas.
Interligar diretamente o Vale do Sousa com o Vale do Ave e o Minho. Também com o Douro e Trás-os-Montes no cenário de uma Nova Linha de Trás-os-Montes.