domingo, 23 de março de 2025

Guimarães, o Estado da Mobilidade e um Plano para o Futuro

Em Guimarães, como na Região, como no País, temos vários problemas de mobilidade, que derivam de muitas questões macro:
  • Má visão e mau planeamento das redes de transportes
  • o planeamento e a operação está refém dos interesses económicos dos promotores e operadores e novas organizações que se criam
  • os decisores políticos estão capturados por lobbies, que levam a decisões erradas:
  • p.ex.: febre dos metrobuses no lugar da ferrovia
  • E… prevalece a cultura de transportes públicos como algo para pobres e remediados em vez de se cultivar o transporte para todos os cidadãos
Concretamente em Guimarães estamos “perdidos na maionese”. Resumindo as últimas décadas:
  • Perdemos a noção da nossa localização no país e na região, resignamo-nos com a nossa condição periférica em relação ao grande Eixo Atlântico:
  • Temos hoje as piores ligações ferroviárias regionais/interurbanas comparando com o QU
  • Com a concretização da nova Linha Porto-Vigo, ainda mais se vai cavar essa condição periférica
  • Confundimos as nossas necessidades de mobilidade interna com as necessidades de mobilidade regional
  • Aceitamos que nos imponham autocarros em via dedicada para o transporte regional, quando devíamos ter ferrovia para nos colocar de novo integrados no Eixo Principal
  • Anda-se agora a falar em Metros de Superfície no ambiente urbano interno, no lugar do que deviam ser os autocarros em via dedicada (é o que é o BRT/Metrobus)
  • Na mobilidade interna até já se falaram em exóticos “Teleféricos Interurbanos”, quando a rede viária, a pedonalização do centro e os transportes urbanos com padrões do séc.XXI estão por colocar em dia.
Não foi por falta de Estudos. Dos quais se destacam três:

A melhor e mais completa caracterização da mobilidade em Guimarães
Com identificação prática de soluções em diferentes áreas de atuação:
  • Rede Viária e Qualidade do Espaço Público
  • Transportes Públicos
  • Pedonalição
  • Mobilidade Ciclável
Mas que tarda em ser aproveitada. E os dados diagnosticados entre 2011 e 2016 estão a ficar ultrapassados e necessitam ser revistos!

  • Importante identificação dos corredores de mobilidade interna:
    • EN101, EN206, EN105, Pevidém e S. Torcato
  • Defesa de soluções de mobilidade em sítio próprio e evolutivas
    • BRT/Metrobus evolutiva para Metro de Superfície  
 

Mas com algumas insuficiências e equívocos:
  • Não integra os diferentes corredores nem estuda o atravessamento diametral da cidade deixando por ligar entre si os locais geradores de procura!
  • Cria expectativas de uma solução por cabos (teleférico) que não é credível para assumir a principal função de mobilidade urbana
  • Induz uma ideia de serviço urbano frequente na Linha de Guimarães, quando não há capacidade para tal sem que isso signifique hipotecar a melhoria das ligações regionais ao Porto e Região. Como aliás a IP e a CP já esclareceram. 

Um estudo aparentemente feito à medida de uma decisão já tomada e não o contrário:
  • Negou à partida o estudo da ligação em ferrovia pesada
    • Ignorando a escala regional do corredor ferroviário transversal do Minho entre o Alto Minho e o Vale do Ave
  • especulou custos “elevados demais” para servir Guimarães
    • como se este território não fosse altamente credor do centralismo do país
  • Defendeu afincadamente a solução BRT/Metrobus apesar de ser a mais ineficiente no contexto interurbano
    • Que colocou despudoradamente Guimarães como um subúrbio da rede de BRT de Braga
  • Teve um sabor a acto de humilhação para Guimarães face aos seus pares regionais
Na Mobilidade em Guimarães, realça-se uma inoperância camuflada por uma sucessão de anúncios e estudos, e uma fatal falta de espírito reivindicativo face a um poder centralista e a caciquismos partidários, agravada por uma falta de visão alternativa por parte da oposição.
Entre perdas de tempo, equívocos ao misturar as necessidades de mobilidade regional/interurbana com as necessidades de mobilidade urbana, e idas nas cantigas de BRT/Metrobuses e ilusões de Metros de Superfície, é hora de parar esta loucura e começar a planear e executar definitivamente a mobilidade a sério neste território!

Plano
  1. Reconhecimento do Território
  2. Diagnóstico
  3. Objectivos
  4. Estratégia
  5. Áreas de Intervenção

1.Reconhecimento do Território

A vida urbana do quotidiano já não está apenas na área que nos habituamos a considerar cidade
A Cidade de Guimarães real é já uma área que ocupa os corredores suburbanos até às vilas, integrando-as:

Esta redefinição dos limites da cidade, substitui o conceito da cidade dos 50mil pela cidade dos 105 mil habitantes!

Esta área de forma cefalópode ou dendrítica deve ser a área a consolidar e a densificar no futuro.
É coincidente com os principais corredores de mobilidade interna e regional:

É nesta área e nestes corredores que a demanda de mobilidade é mais alta!

É nesta escala que se tem de redesenhar o sistema de transportes urbanos!

Esta redefinição da “cidade”, nos seus critérios não integra a área sul do município:

Lordelo, Moreira de Cónegos, Serzedelo e arredores, são em si, parte de um outro organismo territorial, intermunicipal nos vales do Ave e do Vizela, que merece na nossa visão geográfica uma abordagem própria.

Este estudo focar-se-á sobretudo na área sistémica de Guimarães.

Identifiquem-se os maiores locais geradores procura na Área Urbana:
  • Centro Histórico como um todo
  • Hospitais e Centros de Saúde
  • Campus Universitários
  • Escolas
  • Serviços Administração Pública
  • Estação Ferroviária
  • Central de Camionagem
  • Centros Comerciais e Mercados

E os locais geradores procura na área suburbana:
  • Parques Industriais e Tecnológicos
  • Centros de Saúde
  • Escolas
  • Centros Comerciais e Mercados

Analisando os dados conhecidos de viagens pendulares dentro do território de Guimarães e os movimentos do/para o exterior do município, temos uma definição muito esclarecida dos corredores de mobilidade regionais que atravessam Guimarães e dos corredores internos de maior demanda:


Se cruzarmos os dados do Tráfego Médio Diário Anual(TMDA) das principais vias de acesso a Guimarães com os dados de fluxo de entradas e saídas da população ativa dos Censos 2011, conseguimos estimar o número de viagens diárias nos corredores regionais:

Mais difícil é estimar o número de deslocações dentro de cada corredor suburbano do território de Guimarães.
Mas estimando a percentagem de deslocações internas reveladas pelos censos, nessa área geram-se cerca de entre 150 mil deslocações:

Somando as deslocações internas com as deslocações regionais, temos um número de 287 mil deslocações diárias através do território:

Sabendo que pelo menos 70% desses movimentos são em automóvel, estamos a diagnosticar 200 mil viagens diárias de automóvel, sejam internas, a atravessar, com origem ou com destino em Guimarães
Aquelas filas que todos se queixam, e que “está cá vez pior”, blablablá… não é fantasia. É mesmo uma pressão sem antecedentes sobre o sistema de mobilidade


2.Diagnóstico

Em Guimarães e no resto do país assistimos nas últimas décadas a um aumento da dependência do automóvel, o que tem muitos impactos negativos na comunidade:
  • Poluição atmosférica e sonora com implicações na saúde🚬☢️
  • Sinistralidade rodoviária⚰️
  • Tempo perdido nas filas🤬
  • Sedentarismo e falta de actividade física com implicações na saúde🏥
  • Custos relevantes para as famílias na aquisição e manutenção automóvel💸💸
  • Importação de combustíveis e automóveis com implicação na balança comercial do país💸💸

Como chegamos aqui?
  • Desenvolvimento da rede rodoviária simultaneamente com o declínio da rede ferroviária
  • Suburbanização das cidades e dispersão pelo território 
  • As pessoas vivem mais nas periferias e isso gera maior necessidade de deslocações
  • As redes de transportes não acompanharam essa suburbanização
  • Espaço público desenhado para o automóvel
  • Avenidas e ruas bastante permeáveis à circulação automóvel rápida e estacionamento fácil à custa de menos espaço para outras formas de deslocação - pedonal, ciclável e transporte público.
Uma tal pressão automóvel tem implicações em todo o sistema de mobilidade, como um ciclo vicioso:

  • Congestionamentos acentuados nas principais vias de acesso à cidadeQue penalizam o desempenho do transporte público rodoviário🚌
  • Que se torna cada menos atrativo e induz fuga para o automóvel 
  • Conflito, animosidade na competição pelo espaço público 😰😠🤼‍♂️
  • ☢️Ambiente insalubre☢️ à porta dos locais geradores de maior procura:
  • Escolas🏫 e Hospitais🏥 por exemplo

Há demasiado tráfego de atravessamento em várias ruas e avenidas do centro urbano, que não o tem como origem e destino:

O mau urbanismo permitiu a construção de habitação nas bermas de estradas nacionais.
E muitas ruas em áreas residências estão a ser transformadas em vias de atravessamento



Pode-se continuar a ignorar os riscos de ter uma estrada à porta de casa em que passam mais de 20mil carros por dia?
É tolerável que hajam ruas na área urbana sem passeios sequer?

Porque não é o Transporte Público suficientemente atrativo?

  • Na Mobilidade Regional
    • A ferrovia serve apenas um dos corredores principais identificados e termina em Guimarães, o que reduz o número de destinos/origens possíveis através deste modo:
    • Os serviços prestados não oferecem tempo competitivo com a solução rodoviária

    • As frequências horárias dos serviços são irregulares 

    • As localizações das estações e apeadeiros estão longe dos locais geradores de procura

  • Os serviços rodoviários interurbanos prevalecem mas estão cada vez mais presos no trânsito nas vias de acesso à cidade


  • Na Mobilidade Urbana:
    • Fraca comunicação e promoção da rede da Guimabus
      • Só agora 3 anos depois começam a aparecer diagramas da rede nas paragens

    • Fiabilidade horária comprometida pelo trânsito automóvel
    • Paragens desconfortáveis e invadidas por automóveis

    • Acesso e bilhética complicada, cheia de condições e limitações
    • Linhas radiais concêntricas em vez de linhas diametrais
    • Locais geradores de procura desligados entre si
    • Necessidade de mais transbordos e tempos de espera
  • Fraca Intermodalidade:
    • A Central de Camionagem e a Estação Ferroviária distam a 1,3 Km entre si
    • As diferentes ligações e serviços estão descoordenadas em termos de horários gerando transbordos e aumentando tempos de espera
    • Ausência de bilhética integrada e simplicada e desmaterializada

Alerta!
É assustador que se esteja a mesmo a pensar em ter a ligação BRT/Metrobus num novo local sem interface direta com a central de camionagem ou estação ferroviária

Porque não é a bicicleta uma solução válida na mobilidade em Guimarães?
  • As escassas ciclovias existentes estão orientadas para o lazer
  • Não estão ligadas entre si
  • Não ligam aos locais geradores de procura (escolas, hospital, centros comerciais, etc…)
  • São frequentadas por peões para caminhadas o que gera conflito
  • Vias partilhadas com o trânsito 🚦 🚗 não oferecem segurança
  • Pisos em paralelo são perigosos quando chove
  • Fonte de conflito e hostilidade automóvel põe em risco a integridade física do ciclista
  • Não há estacionamento seguro e seco em todas as ruas


3.Objectivos
  • Melhorar a Interconectividade Regional de Guimarães
  • Reformar o acesso ferroviário à cidade e criar novas ligações de/para mais origens/destinos
  • Extrair o tráfego rodoviário de atravessamento que não procura a área urbana
  • Diminuir o tráfego de atravessamento das ruas em áreas residenciais
  • Sinistralidade Rodoviária Objectivo ZERO mortes
  • Aumento da mobilidade ciclável para 10% de quota modal
  • Aumento do uso de transportes públicos para 35% de quota modal

4.Estratégia
  • Sem o discurso negativo de reduzir o assunto à proibição do trânsito
  • É preciso dosear os impactos das mudanças de hábitos na vida das pessoas
  • É precisa muita pedagogia para trazer as pessoas para causa
  • A mobilidade induz-se e passamos décadas a induzir o uso do automóvel, com bastante sucesso😈, diga-se.
  • É a qualidade das alternativas ao automóvel que vai reverter esta tendência
  • Não bastam discursos hipócritas de sustentabilidade ambiental e gratuidades se as soluções de mobilidade não forem capazes, rápidas, fiáveis, seguras e acessíveis. São precisas intervenções na mobilidade a sério!

5.Áreas de Intervenção na Mobilidade


Estas Áreas de Intervenção são interdependentes!

Cada uma delas só será bem sucedida se as outras também o forem.

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